terça-feira, 5 de março de 2013

Harlem Shake e a Idade Média 2.0


Sai Gangnan Style, entra Harlem Shake. No mundo-mídia viral, o sucesso não é apenas efêmero, mas também canibal. Bobagem devora bobagem. A humanidade, esse estranho organismo, chega ao século 21 tendo criado a maior ferramenta de disseminação de conhecimento e cultura da história e o que mais se vê é de um vazio temeroso.

Não se trata de ser do contra ou de não reconhecer que, eventualmente, tanto Gangnan Style quanto Harlem Shake podem render coisas engraçadas. Há em ambos (e em tantas outras coisas que se encontra na internet) o alívio cômico natural da vida, necessário para ventilar sua quase sempre sufocante aspereza. O riso, e mesmo o besteirol, são bem-vindos. O problema está na dosagem.

Quando o que dá mais audiência é algo completamente sem sentido, fica a preocupação do rumo que está tomando esta sociedade conectada. Coisas como facebook e youtube despertaram, inadvertidamente, o que há de mais infantil em nós. O risco é de entrarmos em uma era de infantilização, uma era idiotizada, uma Idade Média 2.0 em que o idioma oficial é o “miguxês”.

Não é preciso ser sisudo para viver a vida, mas a avalanche de besteirol que ocupa os espaços virtuais e os assuntos cotidianos tem tomado proporções que parecem denotar um desejo reprimido de sermos bobos. Quem insistir em pensar, ter opinião crítica, logo é hostilizado pela patrulha da alegria. Torna-se o chato ranzinza, o estraga-prazeres. Assim molda-se a ditadura da felicidade e do divertido. Tudo é graça. E quando tudo é graça, nada mais é sério.
--

Nenhum comentário:

Postar um comentário