Responda com sinceridade. Quais as chances do debate sobre a
redução da maioridade penal estar em evidência hoje caso o jovem baleado por um
menor de idade, durante um assalto e diante de câmeras de segurança, não
tivesse morrido? Arrisco a dizer: zero. Está aí a primeira coisa a se ponderar
no momento.
Hoje, basta um caso mais dramático chamar atenção e repercutir
para que se levantem bandeiras apressadas. Pode ser a maioridade penal, a pena
de morte, a legalização do aborto, a descriminalização da maconha ou qualquer
outra polêmica adormecida que, subitamente, de uma hora para outra, parece se
tornar urgente.
No caso específico da barbárie de um latrocínio praticado
por um menor, a voz que assoma à garganta de muitos, pedindo pela redução da
maioridade penal, é menos um grito de justiça e mais um grito de justiçamento. Não
são vozes em busca de uma melhora da segurança pública, mas em busca de uma
execução que aplaque seu doído sentimento de impunidade. Justo e compreensível,
mas nem um pouco racional. E é a irracionalidade da turba feroz que o Estado
tem o dever de barrar.
Primeiro, porque quem grita pela punição mais severa de
menores de 18 anos dificilmente tem conhecimento sobre números da criminalidade.
Menos ainda saberiam citar algum estudo sério que comprove que a redução da
maioridade contribui para a redução da criminalidade.
Segundo, porque ficam todos sem resposta diante da questão inerente
ao problema de uma redução, digamos, para 16 anos. Como ficará se, no futuro,
um jovem de 15 anos cometer outro crime bárbaro? A grita será por nova redução?
E qual seria o limite dessa redução?
O que não se percebe, por mais óbvio que seja (ou deveria
ser), é que existe uma diferença entre um debate ponderado sobre questões como
essa e um levante popular influenciado por um crime que chocou a todos. Mais assombroso
ainda é não se perceber que o desejo não é de uma solução estrutural, mas de
uma punição pontual. O tipo de punição capaz de aplacar momentaneamente o sentimento
de injustiça, mas pouco importando se o problema da criminalidade está sendo
resolvido com aquilo.
Não se percebe ainda que toda grita deveria estar
direcionada para outro aspecto, exigindo melhora nos mecanismos já existentes
em nossa legislação. Políticas de amparo ao jovem de classe baixa, políticas
mais eficazes de segurança pública, aplicação correta do ECA (Estatuto da Criança
e do Adolescente), criação séria de programas assistenciais de infraestrutura
para reabilitação e reinserção de menores infratores.
O que precisamos aprender é que pouco se resolve quando a
cada novo fato novas leis são exigidas. Bem ou mal, nossas leis e mecanismos
sociais já estão escritos e atendem com razoável amplitude os problemas de
nossa sociedade. Mas enquanto forem apenas letra morta em papel empoeirado nada
vai melhorar. A luta não é para se encher mais páginas com novas letras
natimortas de leis elaboradas no calor da indignação enraizada na desinformação.
Mas de fazer aquelas já escritas serem cumpridas exemplarmente.
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