sábado, 21 de dezembro de 2013

O Articulista Lego


Ler jornais às sextas-feiras. Ai, meu Deus! Pergunta que sempre volta: quão raso precisa ser um articulista para ocupar nobre espaço e ainda faturar algum com isso?

Ao que se vê, profundidade e inteligência não são mais exigências eliminatórias. Basta, talvez, que se saiba bem disfarçar a nula profundidade por trás de um discurso pernóstico, empolado de citações, mas cuja estrutura não resiste a um esbarrão de mínima inteligência.

Ou seja, parece que basta ter lido muito, decorado algumas sentenças de efeito (ou saber buscá-las no Google ou no Wikipédia) e empilhá-las como se fossem peças de lego. Assim, com uma peça encaixada na outra, se reproduz algum pensamento, mas que não se articula, porque é só um arremedo de pensamento, não um pensamento autêntico. É um pensamento lego.

A graça (leia-se tristeza) e ironia disso é que são chamados de articulistas. A palavra vem de artículo, que pode ser uma parte de um trabalho escrito ou uma articulação óssea (veja! também sei pesquisar na Wikipédia, posso escrever no seu nobre espaço?). Porém, ao menos às sextas-feiras, alguns desses articulistas não produzem articulação, como se seus textos fossem bonecos de lego.

Pelo visto, a imprensa brasileira está criando um novo tipo de articulista, o "articulista lego": parece que pensa, parece inteligente, mas é só um amontoado de peças, quase sempre bem encaixadas, mas com uma estrutura dura, sem articulação. E, pior, desmontáveis por qualquer criança que já engatinhe.

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