sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Pessoas Que Excluí do Facebook



Aconteceu quando o debate era a redução da maioridade penal. Aconteceu quando o debate eram as manifestações de rua. Acontece agora quando o debate são os “rolezinhos” e a acontece também sempre que chega uma nova edição do BBB. Na verdade, acontece sempre que surge alguma polêmica capaz de mobilizar opiniões e gostos divergentes.

Nesses casos, renova-se sempre a onda no facebook de bloquear e excluir pessoas que estão “enchendo o saco” com seus compartilhamentos, opiniões, torcidas, indignações ou reclamando de tudo isso, ou do contrário de tudo isso. As justificativas são sempre de que se está excluindo de sua vida pessoas “idiotas”, “ignorantes”, “burras”, “reacionárias”, “preconceituosas” e outros tipos com adjetivos não muito elogiosos.

Pessoalmente, tenho por princípio aceitar qualquer pedido de amizade na rede social e tenho também por princípio jamais excluir qualquer pessoa. E continuo firme nesse princípio. Portanto, o título deste texto é apenas uma armadilha para atraí-lo até aqui. Mas já que chegou, porque não fica e lê o resto?

Claro que, em certa medida, até entendo o impulso de quem costuma sair fazendo as tais limpezas nas suas respectivas listas de contatos. Às vezes a coisa fica bem irritante, reconheço. E, afinal, cada um gere sua vida nas redes da maneira que achar melhor. Mas vejo que parte dessas pessoas que fazem essas exclusões costuma defender princípios como democracia, liberdade e diversidade. Não haveria nisso uma incoerência gritante?

Se no simples convívio virtual - quando basta uma simples rolagem de página para mudar de assunto - essas pessoas se mostram incapazes de aceitar o pensamento oposto, a divergência de ideias, ou mesmo a suposta “ignorância” do outro sem resistir a um impulso ceifador de silenciar o que o desagrada, como podem exigir democracia, liberdade e diversidade? Ou esses três conceitos só valem para aquilo que ela acha certo?

Naturalmente, estou sendo simplificador e não posso de forma alguma querer que as pessoas interajam nas redes sociais de forma padronizada. Muito menos que o façam do modo como acho correto, porque cada um faz de sua vida o que bem entender e não estou aqui para julgar nem ser farol de nada. Só não vejo problema em discutir e levantar algumas questões, o que, possivelmente, poderá me colocar na lista dos excluídos de alguns amigos.

De fato, o que determina quem vai fazer parte da vida virtual das pessoas é como cada uma encara essa tal rede social.

Há, por exemplo, quem a use para fins profissionais e só aceite contatos de trabalho. Há quem crie regras malucas, como uma amiga minha que limita em 50 o número de amigos no facebook: para entrar alguém novo tem de sair alguém antigo. E há, claro, o direito universal e incontestável de você conviver apenas com quem você quer conviver.

O que pergunto é se, apesar de qualquer opção pessoal que não me cabe julgar ou inferir, não estaríamos desperdiçando uma excelente ferramenta para troca de informações e debate? Mais ainda, não estaríamos perdendo a chance de conhecer como o outro pensa e a chance de aprender a conviver com isso e mesmo a chance de, desde que respeitosamente, tentar mudar isso? Ou mesmo desperdiçando a chance de se permitir mudar de opinião, assumir algum equívoco, aprender algo novo. Ou você acha que está sempre certo sobre tudo e sabe tudo que precisa saber?

Já foi dito por estudiosos que esse comportamento, muito típico das redes sociais, traz um risco: o de se cercar apenas de pessoas que pensam igual a você. Este risco é menor na vida real cotidiana. Com exceção da escolha de nossas amizades mais próximas, somos obrigados a conviver com a diversidade em ambientes como o trabalho, salas de aula, espaços públicos e reuniões familiares (afinal, parente a gente não escolhe, no máximo tolera). Assim, é mais difícil cercar-se apenas de gente que pensa como você.

O perigo de uma rede social seletiva (justamente ela, que permite possibilidades tão amplas) é a perda de contato com a diversidade. O isolamento em grupos concordantes apenas empobrece sua visão de mundo e limita as perspectivas da realidade: de como as pessoas pensam e do que elas gostam, para o bem e para o mal, ainda que estes sejam conceitos que dependem muitas vezes de sua própria visão de mundo.

Claro que uma rede social como o facebook não pode ser levada plenamente a sério como uma expressão da realidade, de como são ou de como vivem as pessoas. Sabe-se que na rede a tal vida exposta é sempre fragmentária e seletiva. Pessoas tentam fazer os outros acreditarem que levam uma vida feliz e agitada postando fotos de momentos felizes, quando certamente estas pessoas têm uma vida ordinária, monótona e normal como qualquer outra. A foto feliz é só um fragmento da vida dela, selecionada especialmente para dar a impressão de felicidade.

Também há pessoas que tendem a ser sempre engraçadas e outras que escrevem longos textos para parecerem inteligentes e ganhar dos outros o respeito que sua baixa autoestima e péssima capacidade oratória não permitem no convívio real. Ops!

Seja como for, o que tento reforçar aqui é uma visão das redes sociais como ferramenta rica em possibilidades, não como representação plena e final da realidade e do pensamento das pessoas, que são, obviamente, muito mais complexas e interessantes do que podem demonstrar por aqui.

Assim, vejo as redes sociais como um espaço rico para debate, para opiniões e também para diversão. Mas pode ser também uma oportunidade de se ampliar a visão sobre o diferente, o oposto e o divergente, coisas fundamentais na construção da cidadania e da compreensão da realidade. Sem falar na tolerância, algo sempre bonito de falar, mas difícil de praticar. Pois é nesta tentativa, cheia de fracassos pontuais, que insisto em jamais bloquear ou excluir quem quer que seja no meu facebook. Por mais irritações que isso me cause.
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